COMPLEXO DE CINDERELA
O receio de ser você mesmo


"Abrindo os olhos"
para uma história real
Descubra o conceito escondido atrás do desenho infantil - complexo de Cinderela
Cinderela remete a história de uma jovem proveniente de uma família rica, que após o falecimento de seu pai, se tornou uma pessoa explorada pela família. Sem remuneração e reconhecimento, tanto da madrasta, quanto das irmãs, a jovem sofre durante alguns anos, sem perceber o que lhe acontecia.
Cinderela era humilhada frequentemente, vivia de uma forma bem difícil. Com seus cantos e brincadeiras, ela procurava se distrair de uma vida bastante judiada. Até que um dia encontra a fada madrinha, que a instrumentaliza para ir ao baile, cujo príncipe estará lá. Depois disso, sua vida muda, ganhando um novo sentido.
A submissão de Cinderela
Cinderela era a proprietária legítima dos bens do pai. Mas como ela foi parar numa situação daquela?
Fica em plano de fundo (não observado) a submissão de Cinderela nessa história, por outro lado há uma relação extremamente abusiva da família contra ela.
A relação abusiva ocorre aos poucos, até a vítima ter dificuldade para olhar para a própria situação e enxergar que tudo aquilo que sofre não é justo.
Esse desenho é idolatrado até hoje. Porém, nele esconde o sofrimento de uma garota cheia de atributos, explorada pela família.
Quando Cinderela é presa no quarto, para não provar o sapatinho de cristal, ela percebe que perderá a chance de se casar com o príncipe, o amor de sua vida. Então, ela age em defesa própria. Pode-se dizer que sua vida até aquele momento chegou ao caos.
Quantas pessoas na vida real também passam por isso em realidades e situações diversas? Por vezes, sair de uma relação abusiva, até mesmo no seio da própria família é extremamente complicado, e quando a pessoa se dá conta já passaram anos de muita angústia. Contudo, ninguém escolhe viver assim, e não cabe julgamento.
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Ouso dizer que quanto mais sútil uma relação abusiva, mais difícil de detectar.
A realidade por trás do complexo de Cinderela
Os anos passaram, a mulher alcançou direitos, porém, algumas coisas parecem ser bem corriqueiras ainda hoje.
O complexo de Cinderela vem nos mostrar que alguns paradigmas permanecem na sociedade, se fazendo presente na vida das pessoas.
Embora, a história de Cinderela retrate sobre uma relação abusiva por parte de sua família, o artigo aqui será abordado em cima do tema criado por Colette Dowling (jornalista), no qual escreveu o livro "Complexo de Cinderela". Neste livro a autora retrata as próprias experiências, num campo de lutas e vitórias, ao mesmo tempo em que procurou mostrar como foi tomada pelas inseguranças durante toda sua vida.
Aqui relatarei sobre o complexo de Cinderela mas com a compreensão da Gestalt-terapia, a abordagem que sigo dentro da clínica psicológica. O recorte que faço aqui, não é sobre a relação abusiva, pois sobre este tema, tenho outros artigos no site. Mas a via que traçarei é sobre a insegurança, no qual muitas pessoas sentem, inclusive homens. Porém, a maioria das imagens é feminina devido à personagem Cinderela.
O que é o complexo de Cinderela?

Partindo de uma história infantil e transcorrendo para a realidade, muitas pessoas agem mediante a um conjunto de comportamentos, envolvendo o medo e a insegurança.
Isso atrapalha o desempenho nas áreas mais importantes da vida, restringindo a pessoa de usar o melhor de seu potencial.
No complexo de Cinderela, citado por Colette Dowling, a mulher deixa de fazer o melhor por ela mesma, por acreditar que algo venha de fora e transforme sua vida. Lembrando que isso também acontece ao homem.
Em Gestalt-Terapia anunciamos que existe um modo de ser, aonde a pessoa tem uma forte tendência para se conectar aos outros, sem diferenciar: o que é ela, o que é o outro.
Assim, com identificação excessiva com o outro, a pessoa reduz as diferenças dela, passando a se igualar mais e mais às coisas que se conecta. Com isso, ela se distancia da própria identidade.
Vamos imaginar que a relação abusiva não existia no desenho, e que a Cinderela se submeteu a tudo aquilo sem refletir. Agora que você imaginou isso, posso lhe dizer que na vida real existem pessoas que também podem agir com esta tendência, ainda que não vivam uma relação abusiva.

O sofrimento no complexo de Cinderela

Falta de contato consigo mesmo
Medo e ansiedade, falam mais alto nessa pessoa que tem uma tendência a se conectar com o outro a ponto de não enxergar a si mesma. Porém, ela também não enxerga o outro, mas a relação, que é constituída por um "nós". Ao mesmo tempo, em que é invadida por um conjunto de atitudes inseguras. Não permitindo, que vivencie o potencial que possui.
Também existe uma preocupação constante em agradar o outro. Com isso, ela não faz contato com o "aqui e agora", e assim, suas experiências não são assimiladas. Com essa constante interrupção do contato, a pessoa não consegue perceber suas necessidades, passando a não fechar as situações que precisam ser encerradas.
Seu cotidiano pode corresponder a seguinte frase: “Eu não existo sozinho”.
Dificuldade em fazer as coisas sozinho
Para Colette Dowling as mulheres sozinhas por exemplo, crescem muito, pois, pagam contas, resolvem problemas, lidam com várias situações.
Entretanto, algumas quando se relacionam amorosamente com alguém, passam a solicitar mais a presença do outro, em situações que antes elas conseguiam resolver. Mas quantos homens também não fazem isso, não é mesmo?
Quando num relacionamento, a maior parte da responsabilidade, fica apenas para um dos envolvidos resolver - o fardo se torna pesado.
O comportamento dependente, faz com que a própria pessoa não se sinta capaz de lidar com as suas coisas. Ficando a espera que o outro faça por ela. Contudo, isso bloqueia o desenvolvimento pessoal de qualquer um.

Autossabotagem no complexo de Cinderela

Existe aquela pessoa que se relaciona durante anos com o mesmo parceiro afetivo, ainda que sofrendo. Mesmo que anseie por liberdade, quando alcança tende a ficar com medo, desejando encontrar outro parceiro. Talvez você já tenha conhecido alguém que não consegue ficar sozinho e que inclusive entra em intenso sofrimento, precisando procurar ajuda profissional.
Há casos em que o sujeito por ansiar muito um relacionamento afetivo, acaba por não filtrar aquilo que está à sua volta, podendo se colocar em relações tóxicas.
A autossabotagem também aparece quando essa pessoa passa a procurar outro parceiro, mas não por amor, mas para se sentir segura. Parece uma situação contraditória, porque em grande parte do tempo, ela aguenta muita coisa sozinha.
Há também aquela pessoa que passa a vida inteira desejando uma transformação, e, ao conseguir (trabalho/casamento/carreira) não aproveita a vitória, porque se depara com o medo de não dar conta desta nova situação que é temida mas desejada.
A crise da meia-idade e o Complexo de Cinderela


É na maturidade, que a pessoa vivenciará mais acentuadamente as consequências de sua trajetória, sendo ela responsável ou não pelo que lhe acontecera no passado.
Não importa se viúvo, divorciado, solteiro – essa pessoa poderá sentir culpa por não ter aproveitado mais a vida.
Agora mais consciente, ela percebe que poderia ter feito mais por si mesma. Algumas, com a chegada da meia-idade enfrentam quadros de depressão.
Muitas dessas pessoas passam a vida assumindo papéis de extrema responsabilidade, inclusive pela vida da família e dos amigos. Porém, se o foco fica apenas nesta parte, há uma possibilidade de não ser dada a devida atenção à própria autoestima. Porém, quando sessam os papéis, elas não sabem o que fazer. Pois, há um distanciamento da própria identidade que se configurou à anos.
Esta pessoa está muitas vezes tão à disposição para "cuidar" de seus entes queridos, que até pode parecer que "não precisa ser cuidada". Mas não é verdade, pois todos nós precisamos de atenção, inclusive essa pessoa, mesmo parecendo ser tão forte!
"Vou fazer o meu melhor hoje, procurar a excelência em mim mesmo."
Monja Coen
Medo e insegurança no complexo de Cinderela
O medo e a insegurança, não estão de acordo com a realidade dela e nem com sua capacidade de fazer as coisas.
Contudo, o medo está relacionado em grande parte, com a ansiedade e a insegurança que sente.
Falta de reconhecimento do próprio valor no complexo de Cinderela
Também não é difícil vê-la atribuir o próprio êxito à coisas externas, do que a si mesma: “Consegui a promoção no trabalho por sorte”, “Deu certo porque tinha que acontecer”, "Eu não sou tão inteligente assim, simplesmente arrisquei”.
Essa pessoa pode apresentar dificuldade em receber elogio e de observar as próprias potencialidades.

Estratégias utilizadas para manter o relacionamento amoroso
Complexo de Cinderela

O que faz para conseguir aquilo que deseja?
Por não querer perder o controle da relação amorosa, se pode colocar em segundo plano a espontaneidade e a alegria. Podendo usar de estratégias para manter o controle da relação amorosa.
Dedicação excessiva no relacionamento amoroso
Essa pessoa tem uma tendência a não ter um relacionamento “de igual para igual”. Ela geralmente se doa demais e recebe de menos.
Quanto mais associada ao outro, sem olhar para si mesma, maior dedicação dispensará ao parceiro amoroso. Ela poderá abdicar das próprias necessidades, para se envolver emocionalmente com as coisas do outro.
Essa pessoa tende a se preocupar muito com as exigências e as satisfações do parceiro. Está sempre à frente do tempo.
Muitas vezes, não precisa nem o parceiro afetivo pedir, que já está fazendo. Por outro lado, também pode ficar reclamando, que seu esforço não é reconhecido. Uma frase usada constantemente: “Sei tudo o que o outro quer, não precisa nem pedir”.

Recusa em reconhecer as diferenças no relacionamento amoroso
No relacionamento amoroso, pode exigir semelhança, recusando tolerar qualquer diferença que haja na outra pessoa.
Se age em função do relacionamento, tende a querer que o parceiro o faça da mesma forma. A necessidade é excessiva em permanecer no “nós somos”, do que no “eu sou”.
Esta pessoa procura se satisfazer, realizando aquilo que é bom para os “dois” – sem olhar diretamente para as necessidades existenciais que ambos têm "individualmente como pessoas subjetivas e diferentes". Podemos observá-la dizendo: “Somos parecidos” na hora de fazer escolhas para o casal.
Tendência a ser indispensável para o parceiro
A mulher ou o homem com intuito de manter a relação, poderá se tornar totalmente indispensável para o parceiro, mesmo que gere sacrifícios. Podemos observar a seguinte frase: “O que será dele sem mim?”
O comportamento descrito até aqui pode também se estender em relações sociais de forma geral, basta que o sentimento de dependência e insegurança surjam.
Por mais boa intencionalidade que haja nesta pessoa, a relação afetiva tende a não ser com proximidade de contato, mas norteada pelo medo de um dia ficar sozinha.
Te convido a uma reflexão
-
Quem é você?
-
Do que gosta?
-
O que é mais bonito em você?
-
O que você faz tão bem?
Essas perguntas à primeira vista são simples, mas aquele que passa a vida inteira "mais cuidando" do que "sendo cuidado" pode ter uma dificuldade em responder. Porém, é importante o autoconhecimento para que possa refletir e fazer escolhas mais flexíveis, onde provavelmente reverberará numa vida com mais "sentido".
"Abrindo os olhos" encontramos a certeza de que não é possível mudar o passado, até mesmo porque foi ele que te trouxe até aqui. Mas, é possível construir uma nova história, por meio do que você aprendeu e hoje conhece sobre você mesmo. Lembrando que muitas coisas não dependem só de você.
Maria Cristina Santos Araujo
Psicóloga SP - 06/108.975